Entre os dias 15 e 18 de abril, a Estação Conhecimento de Brumadinho foi palco de uma série de atividades que marcaram a celebração da Semana dos Povos Indígenas. Com o intuito de enaltecer a riqueza e a diversidade das culturas originárias, essa iniciativa foi cuidadosamente planejada para preservar, valorizar e divulgar as vivências de povos de diversas etnias.
Durante esses dias, uma variedade de atividades culturais foi oferecida, incluindo oficinas interativas, jogos tradicionais e práticas esportivas. Essas experiências proporcionaram aos educandos uma oportunidade única de expandir seu conhecimento cultural, permitindo-lhes conhecer, valorizar e respeitar as diversas culturas dos povos indígenas. Além disso, essas atividades também ofereceram um espaço para uma reflexão mais profunda sobre como essas culturas estão entrelaçadas com o nosso território e com as comunidades próximas, promovendo uma compreensão mais abrangente e sensível da riqueza cultural que nos cerca.
A programação incluiu a construção do jogo da onça, conhecido como adugo na língua do povo Bororo. Este jogo ancestral é praticado no Brasil há séculos, antes da chegada dos portugueses no território. O adugo, originalmente desenhado no chão pelos Bororo, é um jogo de tabuleiro que simboliza uma confrontação estratégica entre uma onça-pintada e quatorze cachorros. Enquanto a onça busca capturar os cachorros, estes tentam encurralar a onça. A construção e a participação ativa nesse jogo tradicional não apenas proporcionaram momentos de diversão, mas também serviram como uma oportunidade valiosa para os educandos refletirem sobre a profunda relação que os povos indígenas têm com a natureza e como suas histórias e tradições são entrelaçadas às suas brincadeiras e vivências cotidianas.
Realizou-se também uma oficina dedicada à construção de bonecas, inspiradas nas belas bonecas Ritxoko do povo Karajá. Os educandos tiveram a oportunidade de mergulhar nessa tradição ancestral, moldando suas próprias bonecas e compreendendo como os grafismos indígenas interagem harmoniosamente com os elementos da natureza. Ao participar dessa oficina, os educandos não apenas aprenderam sobre a arte e a cultura dos Karajá, mas também foram incentivados a criar seus próprios grafismos, expressando sua conexão com a natureza e suas próprias narrativas pessoais.
Considerando a riqueza da musicalidade indígena, propusemos uma atividade coletiva de criação de tambores, enquanto discutíamos como a música permeia diversos aspectos da vida dos povos indígenas, desde festividades até momentos cotidianos e religiosos. Destacamos a importância dos instrumentos percussivos, especialmente os tambores largos de som grave, por sua capacidade de gerar vibrações amplas e profundas, que ecoam as pulsações naturais do coração, da respiração e do ritmo da natureza. Ao construir esses tambores, os educandos ampliaram sua conexão com o processo de reaproveitamento de materiais. Assim como os povos originários utilizam o couro dos animais abatidos para consumo na confecção desses instrumentos, em nossa oficina, optamos por utilizar galões de água sem uso. Essa escolha não apenas enriqueceu a experiência prática, mas também ressaltou a importância da sustentabilidade e da valorização dos recursos disponíveis.
Os educandos e educadores também exploraram os jogos praticados pelos povos indígenas, incluindo o Multiesportivo dos Povos Indígenas. Este evento, originado em 1996 por meio de uma iniciativa do Comitê Intertribal – Memória e Ciência Indígena (ITC) do Brasil, com o apoio do Ministério do Esporte, é reconhecido como um dos maiores encontros esportivos e culturais de indígenas na América. Após uma apresentação desses jogos, os participantes tiveram a oportunidade de experimentar várias modalidades esportivas indígenas, como o futebol de cabeça, arremesso de lança, corrida da tora e luta de derrubar toco.
A Unidade de Alimentação e Nutrição da Estação Conhecimento de Brumadinho também explorou aspectos da alimentação inspirados nas culturas indígenas, proporcionando aos educandos refeições que resgataram os ingredientes fundamentais das raízes ancestrais do Brasil. A cada dia, destacava um alimento diferente, enriquecendo a experiência educativa no refeitório.
Além de oferecer os alimentos aos educandos, foram preparados materiais gráficos informativos que exploravam a origem linguística das palavras, usos alternativos e outras curiosidades sobre os ingredientes. Entre as delícias servidas às crianças e adolescentes estavam mousse de maracujá, pipoca e açaí, proporcionando uma experiência gastronômica que não só nutriu o corpo, mas também enriqueceu o conhecimento cultural.
A Semana dos Povos Indígenas na Estação Conhecimento de Brumadinho representou um convite inspirador para a revitalização dos saberes ancestrais. Inspirados pelas palavras de Ailton Krenak em seu livro “Futuro Ancestral”, refletimos sobre a importância de estabelecer um vínculo sensível com a memória de nossos povos. Somente ao reconhecer e reconectar-nos com os modos de existir originários, podemos vislumbrar novos futuros possíveis. É nesse contexto que os educandos têm a oportunidade não apenas de crescer, mas também de cultivar culturas mais solidárias e sustentáveis, construindo um caminho de harmonia e respeito com o nosso planeta e com as comunidades que o habitam.